No dia 14 de novembro de 2014 a Câmara de Vereadores de Bombinhas foi cenário de uma solenidade que entra para a história do município, a Intitulação dos Mestres da Cultura Tradicional de Bombinhas. Receberam a deferência 20 personalidades, que detém o saber notório de saberes tradicionais referências na comunidade.
Os nomes foram indicados por instituições culturais locais e atende ao disposto na Lei Nº 1326 de 23 de julho de 2013. A cerimônia relembrou, através de uma encenação, alguns trechos da vida de cada um, enaltecendo suas histórias, vivências e generosidade no repasse de todo este conhecimento.
Emocionados um a um, os Mestres receberam sua intitulação, e alguns fizeram questão de fazer um pronunciamento em nome dos demais, como o Seu Vardinho, o Seu Lindomar e o Seu Atílio Antão que preparou uns versos, especialmente, para a ocasião.
A intitulação tem como objetivo valorizar a cultura da comunidade tradicional e divulgar os saberes e fazeres que deram a Bombinhas sua identidade.
Os nomes foram indicados por instituições culturais locais e atende ao disposto na Lei Nº 1326 de 23 de julho de 2013. A cerimônia relembrou, através de uma encenação, alguns trechos da vida de cada um, enaltecendo suas histórias, vivências e generosidade no repasse de todo este conhecimento.
Emocionados um a um, os Mestres receberam sua intitulação, e alguns fizeram questão de fazer um pronunciamento em nome dos demais, como o Seu Vardinho, o Seu Lindomar e o Seu Atílio Antão que preparou uns versos, especialmente, para a ocasião.
A intitulação tem como objetivo valorizar a cultura da comunidade tradicional e divulgar os saberes e fazeres que deram a Bombinhas sua identidade.
MESTRES DA CULTURA TRADICIONAL DE BOMBINHAS - INTITULAÇÃO 2014
Foto Manuel Caetano
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Artesanato
Mestra Elza
Dona
Elza Francisca de Lima Rosa, filha de Francisca Tereza de Lima e José
Antônio de Lima, aprendeu em berço de família a renda do bilro.
Desde a infância dividia tempo entre a agricultura para
subsistência e o feitio do bordado que ajudava na renda familiar, e
era vendido nas comunidades vizinhas, principalmente em Santa Luzia.
“Naquele tempo peixe e banana se dava para os outros de tanto que
tinha”. Fala com um prazer sobre o canto dos passarinhos, seus
olhos, duas chamas reluzentes, brilham ainda mais quando lembra do
canto dos pássaros sempre presente. “Se fosse hoje como naquele
tempo o pessoal viveria muito contente por andar no mato”.
Casou-se
com Seu Antônio José Rosa, pescador artesanal, agricultor e
escultor de canoa de um pau só, nascido no bairro de Zimbros, filho
de Jair Sabino Rosa e Maria Ana de Jesus. Da linhagem direta de Dona
Elza nenhum herdeiro aprendeu a arte da renda de bilro.
A
união entre Dona Elza e Seu Antônio gerou 12 filhos, e sua estirpe
somam 32 netos, 29 bisnetos e
três trinetos. A Mestra faleceu em cinco de outubro de 2015, às
4h20 aos 81 anos, vítima de pneumonia.
Mestra Lena
Dona
Helena Luíza da Silva, ou simplesmente Dona Lena, filha de Dona
Luíza Luzia da Silva, conhecida por todos como Dona Luca, e Seu José
Florêncio da Silva. O saber da arte de tecer o bordado delicado do
crivo aprendeu aos 12 anos com uma vizinha chamada Rosa, que trouxe
este conhecimento dos Ganchos. A renda de crivo não é uma tradição
de berço bombinense, foi introduzida em meados dos anos 40. Casou-se
aos 17 anos, com Raul Felício da Silva e teve somente uma filha:
Maria Dolores da Silva. Dona Lena tem três netos e quatro bisnetos.
Seus herdeiros nunca se interessaram pelo crivo, mas a senhora
enxerga no ensinamento, através de cursos promovidos pela Fundação
de Cultura e no fomento desta arte pela educação, por meio das
aulas de artes nas unidades escolares, a permanência deste saber no
município. “O bordado que mais gosto é o crivo, faço porque
gosto muito. Gostaria de deixar o legado, queria que a s pessoas
aprendessem. É bonito fazer alguma coisa da tradição da gente, aí
não morre né?”
Participou
de duas edições do Projeto “Vô Sabe, Vô Ensina” da FMC, em
2013 e 2017, ministrando aulas de renda de crivo.
Cestaria
Mestre
Hermínio
Hermínio
Damázio Vieira, tem 72 anos, aprendeu a arte de tecer redes e
samburás (balaios de cipó) com o pai e este com o pai dele. Filho
de Damázio João Vieira e Eufrázia Deolinda Vieira, mora na mesma
rua que nasceu, três casas acima. Além do ofício, existe um
tempero a mais que é o treino da paciência e a destreza das mãos
Uma das etapas mais difíceis é a escolha do cipó que depende de um
conhecimento que somente a experiência pode proporcionar. “Não é
qualquer um que presta. Tem que trabalhar e não quebrar.” Seu
Hermínio se embrenha no mato e volta com braçadas e braçadas do
cipó correto. Sabe qual é só de olhar. De seus quatro filhos, três
aprenderam a tecer mas nenhum dos 10 netos, até o momento, se
interessou em perpetuar a sua arte. Seu hermínio e Dona Biota têm
dois bisnetos.
Em
2013 seu Hermínio participou da primeira edição do Projeto “Vô
Sabe, Vô Ensina”, no qual ministrou oficinas de cestaria e
tarrafas.
Mestre
Guega
Manoel
José Martins, o Guega, nasceu na Praia Grande em 25 de setembro de
1928, filho de José Emílio Martins e Maria Leônida Martins. Desde
menino trabalhou na roça e na pesca. Aprendeu a tecer balaios com o
avô e o pai, e se transformou num exímio artesão de cestarias
(samburás e balaios) e, também, pescador artesanal. Ao longo de
seus 89 anos foi personagem presente na pesca da tainha, presenciando
os grandes lanços, inclusive narrados por ele no documentário
“Antes do inverno” de 2013, da Fundação Municipal de Cultura.
Fugiu
com dona Araci Maria Vieira em 31 de maio de 1958, jamais
oficializaram o matrimônio, tiveram cinco filhos: Conceição,
Algemiro Manoel (Bi), Rosângela Martins, Dulcemar Martins e Manoel
(Maneca) José Martins Filho. Sua vida inteira tirou seu sustento da
venda de balaios e samburás para as embarcações que por aqui
chegavam e da agricultura, durante um período de 15 anos em paralelo
ao ofício de cestaria, trabalhou na Galé na canoa Amarelinha de
propriedade de Veroni e Nilo Pinheiro, e durante seis meses na pesca
do camarão em Santos, mas não gostou e retornou. Atualmente, aos 89
anos, ainda se dedica a pesca artesanal da tainha.
Com
seu chapéu de palha, companheiro fiel do dia a dia na proteção do
sol e da chuva miúda, fez muitos balaios e samburás para os
companheiros de praia. Balaios que ainda são encontrados nos ranchos
de pesca, pois, o capricho e o cipó colhido na lua certa, preservam
o material por longos anos.
Em
2007 Guega feriu os tendões cortando lenha, e não mais conseguiu
tecer. Em 2014 dona Araci faleceu, vítima de infarto. Dois anos
depois foi a vez do filho caçula partir, vítima de câncer. “Meu
filho Bi aprendeu a tece, já o mais moço, o Maneca não. A Araci
também fazia, naquele tempo todo mundo fazia balaio”. A estirpe de
Guega e dona Araci soma: cinco filhos (um falecido), 13 netos e oito
bisnetos.
Construção Naval
Mestre
Doro
Elias
Manoel da Silva, popularmente conhecido como seu Doro, é filho de
Manoel Paulo da Silva e Felisbina Maria da Silva. Aos 13 anos o pai
faleceu e um ano depois sua família se mudou para a localidade onde,
ainda, vive nos dias atuais, na Avenida Professor João José da
Cruz. Seu Doro herdou as ferramentas e a profissão do pai. Sem nunca
ter recebido uma aula sequer na arte da construção, se tornou
construtor de embarcações e casas.
Fugiu
com Maria Adelaide em 1953, dois anos depois oficializou o
matrimônio. Maria era quatro anos mais nova que Doro, o casal teve
cinco filhos: Rosevete (que faleceu com seis meses), Eramita (morreu
aos 39 anos), Emarita (Preta), Ezarita e o Zelias.
Iniciou
o trabalho na construção naval na década de 60, quando seu
cunhado, Lauro Silvério da Silva, incentivou para iniciarem juntos a
construção
de uma baleeira. Seu Doro relembra como se fosse ontem, dizendo que
ficou pessimista, já que nunca tinha feito uma embarcação, mas
aceitou a empreitada. Foi, também, a convite do cunhado que começou
a construir casas de alvenaria, sendo a primeira a de seu Lauro. “Eu
fiz a baleeira, ficou forte, boa, o caldeirão todo de peroba.
Primeiro passei óleo, depois a tinta. Foi a primeira e acho que foi
a melhor de todas. Ficou boa pra viajar, pra trabalhar, pra tudo”.
Homem
de fé, participou ativamente na construção da capela de São
Sebastião, em seu bairro. Seu Dóro construiu dezenas de casas em
toda a península, e mais outras dezenas de embarcações. A
estirpe de seu Doro e dona Maria Adelaide soma: cinco filhos, 12
netos e seis bisnetos.
Engenho de Farinha de Mandioca
Mestre
Cantalício
Seu
Cantalício Calixo da Rocha nasceu em 12 de fevereiro de 1930 em
Tijucas, e lá viveu sua infância, mocidade e início da vida
adulta. Era o terceiro filho, de um total de sete, do casal Calixto
Manoel Rocha e Ana Carolina dos Santos. Cresceu dentro de um engenho
de farinha de mandioca e na roça.
Casou-se
antes de completar 18 anos com Maria Alzira da Silva. O casal teve 17
filhos, em Itinga nasceram 12 filhos, os outros cinco já nasceram
em Bombinhas após 1964, quando aconteceu a mudança. Comprou uma
propriedade grande, na atual Rua Abacate no Sertãozinho, e ali
colocou seu engenho de farinha de mandioca.
Quando
a esposa faleceu em 1994, vendeu suas terras e o engenho para o
Valtinho do cartório, mas com direito a usufruto até sua morte. Não
permaneceu muito tempo na casa onde achava que passaria o resto de
sua vida, pois a solidão falou mais alto e foi morar nas terras de
sua filha Áurea e do genro Dé.
De
seus 12 filhos que vingaram, pois cinco faleceram ainda pequenos,
duas filhas seguiram seus passos na agricultura: Ana e Áurea, a
última era que lidava com o pai no dia a dia na roça.
Sua
herança cultural da agricultura familiar permanece nas duas filhas,
e nos netos Leno e Lenício, filhos de Áurea, que também são dois
apaixonados pelo engenho de farinha de mandioca.
O
Mestre Cantalício constituiu uma família extensa, 17 filhos, sendo
que cinco faleceram ou muito pequenos ou recém-nascidos: Doralice
(falecida bebê), Isaias (falecido pequeno), Ana, Erenor (falecido em
agosto de 2010), Áurea, Maria, Pauli, Valézia, Sadi, Marlene, Luiza
(falecida com 1 ano e meio), Gerci, Zeli, Tereza, Valdi (falecida
bebê) e Maria (falecida bebê). Sua estirpe soma 39 netos, 47
bisnetos e duas trinetas.
Em
25 de maio de 2016 o Mestre faleceu numa quarta-feira, 25 de junho,
aos 86 anos, por volta das 10 horas no hospital Marieta Konder, de
infarto.
Mestre Bielinho
Manoel João da Silva, popularmente
conhecido como Bielinho, filho de Manoel José da Silva e Maria Joana
da Silva. O saber e o manuseio com engenho de farinha de mandioca
herdou de seus pais e avós, e tanto seus ancestrais, quanto ele
próprio utilizou a atividade em engenhos de farinha para o sustento
da família. Desde os oito anos de idade ajudava seus pais na lavoura
de mandioca e na farinhada, até trabalhou na pesca mas não se
identificou coma função. “Nunca gostei de ser mandado, por isto
não gostava da pesca”. Casou-se com Jucelia há 48 anos, e desta
união são 8 filhos,16 netos e 3 bisnetos. Homem politizado, sempre
foi preocupado com os rumos da cidade, acabou eleito vereador.
Mestra
Rosa
Rosa
Geralda nasceu no dia 16 de maio de 1941, em Bombas, filha de
Esmelindro Manoel da Silva e Geralda Felisbina da Silva, é a quarta
numa linhagem de cinco filhos. Sua família sempre viveu da roça,
com 10 anos já subia o morro para ajudar a mãe nas plantações de
café, mandioca, feijão, milho, pois, seu pai faleceu em 1951. Além
de suprir a casa a produção era vendida nos bairros de Canto
Grande, Zimbros e Araçá (na época Bombinhas ainda não era
emancipada), e o café, especificamente, vendiam para seu Nenê
Fermiano de Porto Belo.
Em
1956, aos 15 anos, casou-se com Roberto Bernardino Dias, viúvo de
Maria Bernardina Dias, que já tinha quatro filhos. Em 1960, em
decorrência da doença do enteado mais novo, venderam a propriedade
na beira da praia e mudaram-se, com engenho e tudo, para as terras
onde vivem até os dias atuais, local onde puseram o engenho
adquirido em 1949 com o dinheiro da pesca rica. Nestas terras
nasceram seus quatro filhos, alguns deles dentro do engenho.
Os
amigos e vizinhos ajudavam a fornear, dentre eles as filhas da
comadre Bília, mãe do Suel, dona Vina, mãe de Mandoca e da Germira
da família do Severo. Ganhavam meia quarta por tarde, que em quatro
dias resultava em meio arque, e claro, sempre tiveram àqueles que
trabalhavam pela massa pra fazer o beijú. “Ensinei muita menina a
raspa direito a mandioca, a fornear. Hoje eu tô aposentada da roça,
minha vida foi sempre da roça, meu pai botava roça e sobrava aquele
beirado, eu dizia assim: ‘pai deixa eu botar uma roça ali pra
mim’, ele brigava comigo, mais eu ia lá capinava, e ele dizia
‘deixa a rama que eu corto’ e eu por perto pedindo pra ele me
ensinar. Ele dizia: ‘olha Rosa é assim o brotinho é pra cá, onde
tem o zolinho, aqui vai brotar, então, tu bota assim’. Ele me
ensinou e eu ensinei pra quem quis aprender, meu filho, as
raparigas”.
Dona
Rosa tem sua história narrada em dois livros bombinenses: “A eira,
a roda e o tempo: um retrato de Bombinhas a partir do olhar de seus
moradores”, de Márcia Cristina Ferreira e “Histórias de
Pescadores: causos das crianças de antigamente” de sua neta
Marília Dias e Jamila Delavy, ambos publicados em 2016. A estirpe de
dona Rosa soma quatro filhos: Manoel, Rosimere, Ana Cristina e
Leandra, quatro enteados (dois já falecidos): Roberto (Lola), Maria
Nice, Vilmar e Camilo, seis netos e dois bisnetos.
Mestre
Suel
Suel
Gonzaga de Melo nasceu em 23 de abril de 1938, filho de Gonzaga Luiz
de Melo e Maria José de Melo. Iniciou aos oito anos a labuta no
engenho da avó dona Bilica, que ficava na altura onde hoje é o
Banco Itaú, no lado de cima. Aos 15 iniciou a vida na pesca
industrial e largou a lida na roça e engenhos, mas quando estava de
férias costumava ajudar a esposa dona Tibúrcia, que sempre
trabalhou na roça e no engenho do sogro, seu Mané Chica. Iniciou o
namoro com dona Tibúrcia em uma domingueira no bairro de Zimbros, a
fuga aconteceu em 20 de janeiro de 1964, e em agosto do ano seguinte
casou-se na igreja e no cartório. Em novembro de 1964 nasceu o
primeiro filho do casal, o Almir, em seguida vieram: Alzir, Aldir e
Maria José.
Quando
se aposentou em 1984 retomou sua antiga paixão pelo engenho.
Primeiramente trabalhou de ameia com o amigo Zequinha do Amaro, mas
não se deu com o genro do amigo e resolveu adquirir seu próprio
engenho. “Eu
acho que os engenhos de farinha daqui de Bombas vão se acabar, o
motivo é a lenha, porque o Ibama não deixa cortar a lenha mais, aí
não tem condição de tocar né?” A estirpe de seu Suel e dona
Tibúrcia soma: quatro filhos e nove netos.
Folclore de Boi de Mamão
Mestre
Sena
Manoel
Frordoardo de Sena Filho nasceu no Canto Grande no lado do Mar de
fora, numa casa simples de madeira no caminho para a Praia da
Conceição, assim como seus sete irmãos, no dia 12 de fevereiro de
1971, filho de Manoel Frordoardo de Sena e Nomélia Maria dos Santos
Silva.
Seu
pai era um exímio tirador de verso e o saber em sua família é
repassado de geração em geração, seus avós ensinaram seu pai, e
com o genitor Sena aprendeu a arte. Já com idade avançada seu pai
não cantava pela fragilidade da saúde, porém, orientava o pequeno
Sena. A fama de seu Neca do Lalado, apelido de seu Manoel, precede
sua ausência, os mais antigos na comunidade contam que era um
excelente tirador de verso.
Com
14 anos, numa brincadeira, Sena descobriu ter herdado o dom de seus
antepassados. Visto que o boi de mamão na comunidade tinha feito uma
pausa, desde que seu pai havia parado com o folguedo ha mais de 15
anos, juntou alguns amigos, formou um grupo. Sena conta que Neca do
Lalado dizia, que tirar verso é no improviso, simplesmente acontece
na hora e depois não conseguia lembrar de absolutamente nada. Com o
Mestre Sena, hoje homem com 46
anos, acontece
da mesma forma, chega na casa da pessoa e não precisa nem conhecer,
basta saber o nome, e os versos simplesmente acontecem: “vem de
dentro no calor do momento junto com os bichos e com o companheiro
tambor”.
Em
1994 casa-se com Roselita Alves de Sena e têm duas filhas Natana e
Gabriela, o casal tem um netinho: Guilherme de Sena Rocha.
Mestre
Pepedro
Pedro
Airozo da Natividade nasceu em 22 de fevereiro de 1945 no bairro de
Zimbros, filho de Agustinho Nestor Airozo e Lúcia Antônia da
Natividade, tem seis irmãos, todos cantadores de Reis e de Boi de
Pau.
Assim
que pôde andar por conta própria sem o apoio da mãe, já
acompanhava o pai nas andanças. Pepedro lembra da primeira vez que
tirou verso, tinha uns seis ou sete anos e foi com seu pai numa casa
na praia de Bombinhas, hoje bairro Centro, e ali diante dos velhos
Dinizarte e Mané Guimara na casa do nortista Russo, o menino fez sua
estreia na arte. “Tirar verso de improviso é de família, é
nosso destino, eu, meu pai, meus irmãos e irmãs, todos nós sempre
cantamos Terno de Reis e Boi de Mamão”.
Iniciou
o namoro com a jovem Marisinha, dona
Maria Lindomar da Natividade,
do Canto Grande numa domingueira na costeira do Zimbros, duas semanas
depois fugiram, em 5 de junho de 1965. Moram até hoje na casa de
nascimento de Pepedro.
Pepedro
é um dos grandes mestres de boi da cidade, mesmo antes da
intitulação era considerado um grande conhecedor da tradição,
tanto pela comunidade, quanto por agentes culturais. Tem uma memória
invejável, jamais escreveu uma única linha de suas composições,
pois apenas escreve seu nome.
O
casal tem cinco filhos Vera Lúcia, Valdemir (Mico), Veroni, Vailton
e Vânia Maria, nove
netos
e
dois bisnetos.,
e os netos seguem os passos do avô
tanto na herança do Lereu, quanto do Terno de Reis e Boi de Mamão.
Folclore de Terno de Reis
Mestre
Lindomar
Seu
Lindomar Emanuel de Sant`Ana é filho de Emanuel Miguel de Sant`Ana e
Ana Geraldina de Sant`Ana, fomentadores de terno de reis, embora, não
fossem cantadores. Logo após o casamento com Alice para com a
cantoria em respeito a religião da esposa. No ano de emancipação
de Bombinhas criam o grupo Estrela do Oriente do Morrinhos.
Atualmente o grupo é um terno familiar com três gerações das
famílias Sant`Ana e Silva juntos. Seu Lindomar tem o sonho que essa
tradição perdure e que as próximas gerações de sua família,
continuem a manutenção desse patrimônio.
“Enquanto
estiver vivo e com saúde vou continuar passando na casa dos amigos
com o Terno de Reis”.
Seu
Lindomar é tirador de verso de improviso, no momento da cantoria vem
a inspiração. Em 2017 lançou, juntamente ao grupo, um DVD com um
mine documentário acerca da história do grupo e 10 canções, cinco
consagradas e cinco autorais, realizado com patrocínio do Fundo
Municipal de Cultura de Bombinhas de 2015, e apoio cultural da
inciativa privada. O casal tem seis filhos
e
oito netos.
Gastronomia e Agricultura Familiar
Mestra
Ana
Ana
Calixto Rocha da Silva, é a segunda filha, da linhagem de 17, de
Cantalício Calixto Rocha e Maria Alzira da Silva, e veio morar em
Bombinhas aos 14 anos quando toda a família se mudou para cá, vinda
de Itinga na cidade de Tijucas. Cresceu na labuta com seus pais e 16
irmãos no cultivo da roça, atualmente chamada de agricultura
familiar. É conhecida por Ana do Bá ou Ana do Seu Cantalício. O Bá
(Seu Valdemar Bento da Silva) é seu esposo há 39 anos. Tem uma
produção de colorau famosa na península, vendida até para São
Sebastião em São Paulo. É uma Consertadeira
de mão cheia, é dela a Consertada servida no Museu Comunitário
Engenho do Sertão. A produção de dona Ana é totalmente sem
agrotóxicos. “Não uso nada de veneno, meu colorau é puro, faço
com óleo ou com banha, o que tiver, mas é tudo purinho”.
Da
união de Dona Ana e Seu Bá, nasceram cinco filhos e o casal tem
seis netos. Nenhum dos filhos segue os passos dos pais na agricultura
familiar.
Mestra
Dulce
Dulce
Maria (Pinheiro) da Silva nasceu no dia 16 de outubro de 1931, pelas
mãos da parteira Tibéria, na Praia Grande, atual bairro de Bombas,
filha da benzedeira Maria Rita Flor e José Laurentino Pinheiro, que
além de dona Dulce tiveram mais cinco filhos. Na infância
permaneceu por três anos seguidos na primeira série do antigo
primário, não porquê fosse reprovada, mas, por não haver mais
séries. Por estar à frente dos estudos ajudava a professora a
ensinar outras crianças. Aos 12 anos fez sua primeira viagem de
“lancha” para a casa de sua madrinha em Ilhota, devido ao mau
tempo o leme da lancha se partiu e tiveram que fazer uma parada em
Balneário Camboriú, no dia seguinte seguiram até Ilhota. Ali dona
Dulce permaneceu por dois meses e a empregada de sua madrinha, a
dona Flor
repassou
a enteada seus saberes de benzimentos, que ela anotava num
caderninho: zipra, quebrante, zipelão, insolação, mal olhado, dor
de dente, cobreiro, dor nos olhos, campainha caída, bicheira,
vermes, rasgado, entre outros. E aprendeu o mais importante: a força
da fé. Somados aos ensinamentos com dona Flor tinha o fato de ter
visto em toda a sua infância a mãe exercendo essa função, e,
somente em observar, aprendeu.
Aos
17 anos casa-se com José Amândio da Silva Júnior e tem 16 filhos,
todos nascidos em casa. Dona Dulce trabalhou muito no cultivo da
agricultura familiar, de subsistência, nos engenhos de farinha de
mandioca e cachaça da família, e criou seus filhos todos na roça.
Além de sábia benzedeira e agricultora, dona Dulce é uma hábil
versadora, tanto no Pão-por-Deus, quanto nas cantorias de Terno de
Reis e Boi de Mamão.
Em
1988 devido a um desentendimento quanto a moradia separou-se de seu
Zé Amândio pela quarta e definitiva vez, sem nunca mais trocar
conversa com o esposo, mas sempre se consideraram cônjuges,
inclusive sentando-se lado a lado nas festas familiares. Seu Zé
Amândio faleceu em 31 de janeiro de 2014. A estirpe de dona Dulce e
seu Zé Amândio soma: 16 filhos, 36 netos, 28 bisnetos e uma
trineta.
Mestra
Salete
Salete
Maria Pinheiro Pereira, nasceu na Praia Grande no dia 1º de julho de
1946, é a terceira filha de Manoel Laurentino Pinheiro e Maria
Margarida da Costa Pinheiro, que ainda tinham mais sete filhos: Selma
Maria (falecida), Salma Maria, Sílvia Maria (falecida), Suraia Maria
(morreu com um ano), Silvio Manoel (seu Zico), Suel Manoel e Manoel
Filho.
Ainda menina aprendeu com a avó Amália a arte da culinária:
bolachas, broas, a Consertada e pratos típicos com galinha, porco,
peixes e frutos do mar, além do famoso aparadinho (café tomado
direto na xícara em que será ingerido), sempre oferecido em sua
aconchegante cozinha. Além da gastronomia tradicional, ela gosta de
criar pratos e não há frutinho do mato, desconhecidos pela maioria,
que ela não transforma em geleias e sorvetes. Salete é uma grande
repassadora do conhecimento, mesmo as receitas consideradas de
família, ela não se acanha em transmitir.
Em
1973 casou-se com Ruben Amaro Pereira, neste mesmo ano nasceu a única
filha Janaína Pereira, que também lhe deu sua única neta Marina.
Em 1982 separou-se e nunca mais quis saber de matrimônio. Em 2007
inicia sua trajetória junto ao grupo Mixtura, a princípio
acompanhando a neta Marina, com o tempo tornou-se integrante e é
dela a Consertada que o grupo serve em suas apresentações. Nos
últimos anos estava na tocata, da qual fez uma pausa em 2016 para o
tratamento de câncer, que desbancou com a mesma garra de toda a sua
vida, e aos poucos retoma suas atividades junto ao grupo.
Outra
habilidade da senhora de 71 anos é a oralidade, é uma grande
contadora de histórias e dona de uma memória invejável, e por isso
mesmo, tem suas narrativas em diversas teses de conclusão de curso,
quer sejam graduação, mestrado ou doutorado, e Salete também tem
sua história de vida contada nos dois livros bombinenses: “A eira,
a roda e o tempo: um retrato de Bombinhas a partir do olhar de seus
moradores”, de Márcia Cristina Ferreira e “Histórias de
Pescadores: causos das crianças de antigamente” de Jamila Delavy e
Marília Dias, ambos publicados em 2016.
Participou
de duas edições do Projeto “Vô Sabe, Vô Ensina” da FMC, em
2013 e em 2017, ministrando cursos de gastronomia típica.
Em
31 de outubro de 2017 recebeu na cidade de Palhoça, do Núcleo de
Estudos Açorianos – Nea da Ufsc, o Troféu Ilha do Pico, que
premia a categoria Mestre do Saber e Fazer.
Literatura
Mestre
Atílio Antão
Atílio
Francisco Antão nasceu em 17 de agosto de 1930, filho de Francisco
Antônio Fagundes dos Santos e Ana Alexandrina da Conceição, sua
mãe faleceu em 1937,
quando seu Atílio contava sete anos, e seu Francisco casou-se com
dona Margarida Maria de Jesus. Tem mais três irmãos: Hercílio
filho de dona Ana Alexandrina e Maria Margarida e Catarina Margarida,
filhas de dona Margarida.
Herdou
dos avôs a veia artística, tanto de seu Emerenciano José Jacinto,
quanto seu Antão Fagundes dos
Santos, eram homens letrados. Seu Atilio além de versador, poeta,
rimador, foi professor por três anos e meio na antiga escolinha do
bairro, quando ainda era de madeira, roçador, ajudante de topógrafo
e trabalhou por 18 anos como picadero. Também conservava em seu
terreno um pequeno cultivo de hortaliças, temperos, mandioca,
batata-doce para consumo familiar.
Foi casado com dona Ana Maria de Souza
por 55 anos, com a qual teve 10 filhos: Iolanda, Nivalda, Atílio e
as gêmeas Iraci e Irani, estes cinco morreram bebês, e mais cinco
que vingaram, Almeri (Mirinha) Eli, José Eugênio (falecido), Itamar
Zenir, Inézia e Erinézio Atílio Antão. E antes de se tornarem
evangélicos saíram muito com a cantoria do Terno de Reis. Dona Ana
faleceu em 2007 e seu Atílio casou-se com dona Francisca da Silva
Foppa, a dona Chica, com a qual viveu por 10 anos, até a morte dela
em 2016.
Desacostumado a solidão, encontrou um
novo amor e estava de casamento marcado com dona Tereza, quando em 28
de fevereiro de 2017 lançou seu livro “Causos de Atílio Antão”,
organizado pela Associação Cultural Zé Amândio e Instituto
BoiMamão, realizado por meio do Fundo de Cultura de 2015. Uma semana
depois foi internado por sete dias, retornou por dois dias e foi
novamente internado. Foi acometido por um Acidente Vascular Cerebral
– AVC, na quinta-feira 23 de março e não mais acordou. Faleceu no
domingo, dia 26, entre 19h30 e 19h45, seu Atílio Antão formou uma
família numerosa, são 10 filhos, 20 netos, 33 bisnetos e um
trineto.
Em 26 de agosto de 2017 foi
homenageado pela Academia de Letras do Brasil Santa Catarina,
seccional de Bombinhas, a qual em solenidade de criação, nomeou a
confraria de Mestre Atílio Antão.
Pesca
Mestre
Naro
Carlos
Adrião Pinheiro, filho de Adrião Antônio Pinheiro e Catarina
Paulina de Jesus, nasceu
na Lagoinha
em 4 de dezembro de 1925, as duas da tarde em casa paterna, pelas
mãos da parteira dona Zefa Pinheiro, sua avó, mas foi registrado
oficialmente em 4 de janeiro de 1926.
Aos
11 anos iniciou a lida na pesca artesanal com seu pai, sempre pescou
com direito a um quinhão inteiro. Também aos 11 anos, adquiriu sua
primeira canoa de um pau só, comprada em Tijucas e vendida em 1956.
“Comprei com o dinheiro do meu trabalho, o dinheiro que juntava não
tinha onde gastar mesmo, então a gente guardava”. Começou na
pesca industrial em 1954 no barco do irmão Pinguim. Nunca alterou
sua carteira de pescador nas funções a bordo, passou direto para
proprietário em 1972.
Começou
a namorar a jovem Lira, Maria Ídia (Mafra) Pinheiro em maio de 1949,
em 18 de janeiro de 1950 oficializa o matrimônio. O casal tem sete
filhos: Clemildes (Quidinha), Cleria, Claudete, Cleusa, Claudir
(Cadi), Claudeci, Claudionor (Canô). Seus dois filhos homens
trabalham na pesca artesanal da tainha pelo fator da tradição e
assim conseguem manter. De seus 20 netos, somente no ano de 2016 é
que dois deles se interessaram na continuidade: Carlinhos e Leandro.
“Meus netos se dedicam a outras profissões, acredito que o
Carlinho até vai continuar, ele tem gosto pela tradição, o Leo
também, mas é muito ocupado trabalha muito nesse negócio de
internet, informática”.
Seu
Naro possui sete canoas de um pau só. A “Aventureira”,
canoa de aproximadamente 250 anos de canela guarapuvu, herdou de seu
Adrião, que faleceu 1964. As demais são: Pequena, Tetei, Tati,
Netinha, Prosinha e Ídia. Seu Naro e dona Lira têm 20 netos e 22
bisnetos.
Mestre
Zequinha
José Olímpio
Filho, nasceu em sete de março de 1950, o terceiro filho de dona
Maria Ernestina de Melo e José Olímpia da Silva, criado junto aos
10 irmãos na labuta diária da roça e na pesca. Com 18 anos iniciou
na pesca industrial, na qual trabalhou por
30 anos.
Herdou
junto aos irmãos o gosto pela pesca artesanal da tainha e duas
canoas centenárias: a Santa Cecília e Santa Rosa. Nomes dados por
seu Zé Olipa em homenagem as filhas. Também herdou junto aos irmãos
o rancho de pesca onde juntos, guardam os apetrechos da atividade,
inclusive alguns objetos considerados relíquias. Ao longo de sua
trajetória adquiriu mais quatro canoas de um pau só, a primeira
delas, a Janaína, o negócio foi realizado por seu pai que o avisou
pelo rádio sobre a venda, pois estava embarcado, as demais são:
Faísca, Padroeira e Maria José.
Em 1975, aos 25 anos, fugiu com a
jovem Bia, Maria Antônia Olímpio, de apenas 14 anos. Um ano e cinco
meses depois oficializaram o matrimônio.
Em outubro de
1975 nasceu o primeiro filho, o Denilson (Wil) e dois anos depois, em
77 nasceu a filha Denise. Ainda em 1977 abriu o bar na beira da
praia, um ano depois o bar se tornou restaurante. Na década de 80
resolveu iniciar na vida pública, foi eleito vereador para a
legislatura de 1989
a 1992, na administração de Maurino Serpa. A estirpe de Zequinha e
Bia Olímpio soma: dois filhos e quatro netos.
Mestre
Vardinho
Osvaldo
Reinaldo de Melo, filho de Reinaldo Luiz de Melo e Maria Bernardina
(da Silva) de Melo, nasceu e foi criado na praia do Embrulho, junto a
mais seis irmãos. Iniciou na atividade profissional da pesca em
1949, aos 16 anos, na embarcação do mestre João Dias, em Santos,
mas desde menino trabalhou junto ao pai e os camaradas na pesca
artesanal. Foi aos 10 anos que, em parceria com o amigo Gualberto,
iniciou na pesca artesanal da tainha, no rancho de seu pai, recebiam
2x1, os dois valiam um quinhão.
O
Rancho na praia do Retiro dos Padres, sempre esteve nas mãos de sua
família, explica que o avô Luiz contava ao seu pai Reinaldo, que o
bisavô de seu Vardinho, seu Tomé Cruz, já possuía o rancho. É
proprietário de duas canoas de um pau só: Artista e Luz do Dia. O
Rancho em parceria com o amigo Vavá ainda abriga mais duas canoas,
uma do amigo Vavá e uma de sociedade de seu filho Edvaldo com o
filho do Vavá, o Diego.
Foi
o primeiro pescador da praia de Bombinhas a trabalhar na pesca do
camarão. Seu Vardinho fugiu em 15 de janeiro de 1955 com a filha
mais velha de dona Inzinha, a Zulma Rita da Mata. Em 4 de fevereiro
casou-se no religioso, e ainda no mesmo ano, oficializou no civil, no
dia 12 de abril. Em 4 de julho de 2017 falece, vítima de embolia
pulmonar, aos 84 anos. Seu Vardinho e dona Zulma têm oito filhos:
Ericleia (Queia), Edinho, Edvaldo, Eliane, Erico, Maria Zulma, Elisa
e um falecido, 19 netos, nove bisnetos e oito trinetos.
Mestre Vital
Vital Januário Miguel nasceu em 11 de
junho de 1933, filho de Francisco Januário Miguel, o Chico Januário,
e Carolina Flávia Miguel, a dona Carola. É o primogênito de 13
filhos. Foi criado na labuta da roça e na pesca, já menino pescava
na Praia de Fora, no porto de seu Vidinha e do Pai Nilo, junto ao
irmão Torninho no 2X1, os dois valiam um quinhão. E quando ganhou a
maioridade, também ganhou o mundo do mar e tornou-se pescador
profissional, o destino foram os portos do Rio Grande do Sul, onde
trabalhou por três anos.
Vivenciou os
afazeres no engenho, pois, em frente a sua morada de hoje, na rua
Surubim, era o local onde ficava o engenho da família. E nesse mesmo
engenho trabalhou até quando o patriarca se desfez das terras. Na
noite de 10 de março de 1957 fugiu com a Maria Alcides Mafra. Se
encontraram em dezembro
de 1956 num dos bailes típicos da época.
Três
meses depois fugiram. Há uma curiosidade
quanto a oficialização do casamento de seu Vital e dona Bia, pois,
foi o primeiro realizado no cartório do Nomi.
Tiveram sete filhos, quatro homens e
três mulheres: o primogênito, Manoel, nasceu morto, Valdemir
(Vardo), Marilda, Valdenir (Miza), Valcedir (Valsa),Maurília
(Preta), Valdinei e Juliana, a sobrinha adotada aos sete meses. Os
filhos homens seguiram os passos do pai e tornaram-se pescadores,
passo também de alguns netos. Quando a mãe de dona Bia faleceu em
1969, coube a ela assumir a criação dos irmãos, dois deles ainda
muito pequenos, e a seu Vital assumir a paternidade, desta forma
criaram: Eduardo, Abdon, Ailton, Ariadenes (Denes) e Arno.
Na década de 70 comprou uma faixa de
terra na beira da Praia de Fora, onde hoje é seu porto e rancho, que
pertencia a seu Tarcílio, foi dona Idalina que ao enviuvar vendeu o
porto com canoa e rede ao amigo Vital. Em 1980 aposentou-se. “Hoje
em dia quem me acompanha na pesca é meu filho, meu neto e às vezes
meu bisneto, também, nos acompanha para botar rede”.
Texto, pesquisa e fotos: Marcinha - Márcia Cristina Ferreira
jornalista e escritora
Dona Benta, Benta Seberiana Lucinda
Venézio, nasceu em 13 de janeiro de 1950 nos Ganchos, Governador
Celso Ramos. Segunda dos 11 filhos do carpinteiro naval Sebastião
Nicolau Lucinda e da criveira Seberina (dona Bina) Alves Lucinda.
Em1958, os pais vieram morar em Bombinhas, primeiramente no
Morrinhos, em seguida Zimbros. E foi justamente no Cantinho de
Zimbros que dona Benta conheceu, enamorou-se e casou com o pescador
José Manoel Venézio, pai de seus três filhos. O casal montou em
sua casa uma venda que ficava aos cuidados de dona Benta, enquanto
seu Deco estava em alto-mar. Em 1979, o marido desapareceu no mar com
toda a tripulação (o irmão Osni, o sobrinho Ito e seu Marzinho),
jamais encontraram os corpos. Com três filhos pequenos, dona Benta
não teve tempo de chorar, arregaçou as mangas e trabalhou duro para
criá-los. Com o passar dos anos a venda tornou-se o Restaurante
Franciele, e com muita labuta construiu seu legado na Gastronomia,
entre seus pares e comunidade em geral. Quatro anos após enviuvar
encontrou um novo companheiro, seu Veroni Abelardo Martins. Moradora
do bairro de Zimbros praticamente desde que chegou em Bombinhas,
ainda hoje, aos 68 anos está na ativa repassando seus saberes
generosamente a quem a procura. É referência na culinária típica
bombinense. Sua estirpe soma três filhos e quatro netos. Foi intitulada Mestra em Gastronomia no dia 21 de dezembro de 2018.
Mestra Dete
Odete Maria da Silva, a vó Dete,
nasceu no bairro de Morrinhos em 2 de fevereiro de 1939. Filha de
Antônio Henrique da Silva e Maria Luíza da Silva, ela tem mais
quatro irmãos: Rute Maria, Urias Antônio, Henrique Antônio e
Marlene Maria. Aos 10 anos compreendeu que sua vida seria de muita
luta e começou a batalha pela sobrevivência, passou por alguns
lares adotivos até que iniciou o trabalho numa casa de família em
Tijucas, onde iniciou os passos na gastronomia e tornou-se ainda
muito jovem uma grande cozinheira. Ao longo dos anos desenvolveu a
arte da culinária e de forma generosa repassa aos que desejarem
aprender, sendo inclusive bastante procurada pelos jovens. É uma das
matronas bombinenses que ainda hoje mantém o ritual do feitio da
farinha de amendoim na Semana Santa, inclusive legado este repassado
à neta Janine. Sua estirpe soma 11 filhos (9 biológicos e três do
primeiro casamento de seu segundo marido, mas criados como seus), 29
netos, 30 bisnetos e quatro trinetos. Foi intitulada Mestra em Gastronomia no dia 21 de dezembro de 2018.
Mestra Rosete
Rosete Lamin de Oliveira nasceu da
cidade de Itajaí no dia 24 de outubro de 1956. Filha do casal
Basilio Lamin e Ormandina Etelvina dos Santos, a famosa Mandoca.
Quando contava um ano e meio veio morar em Bombinhas, terra de sua
mãe. Ainda menina vivia envolvida na brincadeira de Boi de Mamão.
Também, ainda muito jovem desenvolveu o talento para a culinária,
especializando-se em licores tradicionais, especialmente a
Consertada. Casada com outro grande personagem local, o Mestre Li,
sua casa vive de portas abertas para a comunidade em geral e
pesquisadores da cultura popular. É uma das consertadeiras mais
famosas de Bombinhas, é dela o famoso licor, “Consertada”, que o
grupo Cantadores de Engenho serve em suas apresentações, e em
turnês inclusive fora do estado. Rosete é uma das matronas
bombinenses pesquisadas por alguns projetos, tanto do curso de
graduação como de Mestrado da Univali, coordenado pela professora
Dra. Yolanda Flores e Silva. Ela tem em seus filhos a transmissão
dos saberes do Boi de Pau e da Gastronomia, além de repassar a quem
a procura seus conhecimentos. Sua estirpe soma quatro filhos, sete
netos e duas bisnetas. Foi intitulada Mestra de Boi de Mamão e Gastronomia em 21 de dezembro de 2018.
Boi de mamão e Lereu
Mestre Li
![]() |
Eronildo João de Oliveira nasceu
entre as praias de Bombas e Bombinhas, no dia 17 de setembro de 1953.
Primogênito do casal João Francisco de Oliveira e Osnia Maria
Martins, e ainda bebê ganhou a alcunha de Li. De família envolvida
na cultura popular, ainda cedo o menino trouxe pra si a herança dos
saberes de sua gente. Ao casar-se com sua Rosete formou a dupla
perfeita na defesa cultural local. Sempre brincaram nos folguedos, e
são ícones em Bombinhas tanto no Boi de Mamão e no Leréu, aliado
a todo esse saber Li conciliou o trabalho na pesca industrial por 20
anos, depois dedicou-se à agricultura e nos últimos 10 anos de sua
vida trabalhava junto à esposa e o filho caçula Paulo, na
lavanderia anexa à sua morada. Construiu junto a esposa, e aos
amigos Paulinho, Rosa, Darci, a Neide da Rosa e genros, o bicharedo
que foi doado à Fundação Municipal de Cultura em 2014. Também
ajudaram a construir o bicharedo da EEB Maria Rita Flor. Era um dos
poucos detentores bombinenses com notório saber no Leréu, bem como,
extrema destreza no folguedo de Boi de Mamão. Além de repassar seus
conhecimentos a quem o procurasse, deixou seu legado em seu tronco
familiar nos filhos e netos. Mestre Li faleceu, vítima de câncer,
15 dias depois de ser intitulado Mestre da Cultura Tradicional de
Bombinhas nas categorias Leréu e Boi de Mamão. Sua
estirpe soma quatro filhos, sete netos e duas bisnetas.
Mestre Li
Paulo Gabriel
nasceu em 17 de setembro de 1941, na beira da praia de Bombas,
próximo onde era o restaurante Marolas. Oitavo dos 12 filhos de seu
Gabriel Paulo e dona Alexandrina Maria dos Santos. A mãe faleceu
quando era muito pequeno e coube à irmã Chiquinha de apenas oito
anos, olhar os filhos do casal para que o pai e os irmãos mais
velhos pudessem trabalhar. Algum tempo depois o pai contraiu outro
matrimônio. Acostumado a ver o pai e os amigos nas andanças com o
Boi de Mamão e o Leréu desde muito menino, aos seis anos já o
acompanhava. E também a seu João Esmelindro e outros mestres pela
estrada afora. Participar propriamente dito da pisada do Leréu foi a
partir dos 15 anos. É um grande incentivador dos folguedos e
atualmente junto a um seleto grupo de notórios é um dos guardiões
do saber do Leréu. No Boi de Pau ainda aos 77 anos, brinca no
personagem cabrinha do grupo Eira meu Boi, já que a idade o
impossibilita de ir no seu bicho preferido que é Boi. Sua estirpe
soma dois filhos, um
faleceu logo após o nascimento, e Lucinete Gabriel, a qual presentou
os pais com a doce Laurinha – Laurinete, sua única neta. Foi intitulado Mestre de Boi de Mamão e Lereu em 21 de dezembro de 2018.
Pesca
Mestre Izaias
Izaias João da Cruz nasceu em 24 de
maio de 1951, na beira da praia do Mar de Dentro onde ainda hoje é a
casa de sua mãe. Filho do casal João José da Cruz e dona Nina,
Angelina Maria da Silva Cruz. Ainda menino ajudava os pais e os tios
a descascar camarão na da Salga que o pai e o tio mantinham em
sociedade. Aos 12 anos começou a trabalhar oficialmente. No final da
década de 70, compra sua primeira lancha e inicia o trabalho na
pesca do camarão pelas redondezas da península, ainda hoje essa
embarcação está na ativa. Foi um dos pioneiros na maricultura em
Bombinhas, em 1988, atualmente ainda em produção. Ele fala que está
desistindo dessa função porque não tem seguidor, seu único filho
não tem o gosto do pai pela pesca, nem pela maricultura, em
contrapartida, Mestre Izaias ensinou muita gente na arte da pescaria.
A geração dos 38 aos 47 anos no bairro do Canto Grande, é difícil
um homem que não tenha passado por seus ensinamentos na pesca
artesanal. Foi intitulado Mestre da Pesca em 21 de dezembro de 2018.
Construção Naval
Mestre Cimá
Jucimar José Olímpia, o Cimá,
nasceu em 25 de outubro de 1957, na Barra. Oitavo filho de seu Zé
Olipa – José Olímpio e de dona Maria Ernestina de Melo. Desde
muito cedo foi envolvido na Pesca Artesanal da Tainha, como toda a
sua família. Aprendeu a arte da carpintaria com seu João Geralda,
um exímio construtor, sem nunca ter tido uma aula, apenas
observando. E dessa forma iniciou sua vida de carpinteiro onde
trabalhou tanto na construção civil, quanto na reforma de canoas de
um pau só. Debutou na construção naval na canoa Santa Rosa de seu
pai, com um pouco mais de 20 anos. E ao longo dos anos tornou-se um
dos nomes mais procurados quando se trata de tal reforma, tendo
passado por suas mãos habilidosas mais de 28 exemplares. Ainda,
desenvolveu o talento para arte e embora diga que se trata de apenas
uma brincadeira, é um exímio artesão. É o único dos irmãos que
nunca trabalhou na pesca industrial, somente na artesanal da tainha,
e mantém junto aos irmãos um dos ranchos de pesca artesanal da
tainha mais tradicionais da península. Continua na ativa e por
enquanto não pensa em aposentadoria. Sua estirpe soma três filhos e
quatro netos. Foi intitulado Mestre da Construção Naval em 21 de dezembro de 2018.
Benzimentos
Mestre Xoxó
![]() |
Nilton Jeronimo
dos Santos, é o primeiro Mestre a ser intitulado em memória. Seu
Xoxó, nasceu em 5 de agosto de 1937, na Praia da Conceição no
Canto Grande. Filho caçula dos cinco, do casal Euflauzino Jeronimo
dos Santos e de Cipriana Maria dos Santos. Quando contava cinco anos
sua mãe faleceu, e os irmãos foram separados, coube então, ao
pequeno Xoxó ser apartado do seio de sua família. Foi criado por
dona Alvelina Leal, da Praia de Bombinhas. Aos 15 ganhou o mundo,
destino: Santos. Retornou pra casa, no Canto Grande, somente 10 anos
depois. Sua vida foi de muita labuta, mas também dedicada a arte dos
versos de improviso e aos benzimentos. Faleceu em 6 de dezembro de
2016, vítima de uma parada respiratória. Sua estirpe soma 23 netos,
três deles já falecidos, e seis bisnetos. A intitulação de Mestre em Benzimentos foi
recebida por sua esposa Maria Júlia dos Santos, a dona Bia, em 21 de dezembro de 2014.
Textos e pesquisa: Marcinha - Márcia Cristina Ferreira
jornalista e escritora
Fotos:
Mestre Izaias Tiago Flores
Mestre Li Santi Asef
demais Mestres Marcinha Ferreira